28 agosto 2012

A apendicectomia - I

Fiz uma apendicectomia!
Agora que estão todos a pensar "Olha-me esta, não lhe chega o Harry, ainda faz pausas para ir para o bloco", deixem-me refrasear: fizeram–me uma apendicectomia.

Pois é, numa destas belas noites/madrugadas, adormeço, como é normal, no sofá a estudar e depois fui para a cama, tendo acordado, pouco depois, com umas dores dorzecas abdominais difusas, blá-blá, vómitos, posterior localização à FID etc e tal, de maneira que lá fui eu a toque de caixa para o Hospital mais próximo, com o P a conduzir a uma velocidade acima do no limite legal, que aí a coisa já tinha agravado e estamos a falar de uma Sra. Dor, do pior que este corpinho já conheceu.

Na recepção:
- E então porque é que vem cá?
- Apendicite

No gabinete:
- Então o que é que se passa?
- Estou com apendicite
- Então e está tão nervosa porquê?
- Olhe, eu acabei agora o curso de Medicina e estou a estudar para o Harrison, de maneira que 50% dos nervos devem-se ao tempo que vou perder com isto, percebe?

Risos, sorrisos, olhares cúmplices, então quando é o exame? Novembro. Ah, já falta pouco - comentário que, já agora, só poderia ser feito por quem já passou pela privação H, já que os comuns mortais ficam a olhar de lado, com cara de quem está a pensar "mas ainda falta tanto tempo!"

De referir que até este ponto eu me encontrava a conversar com internos, muito simpáticos por sinal, claramente solidários com a minha causa. Entra o cirurgião, Ah e tal deve ser apendicite, dizem os internos, pelo que o Dr se vira para mim e diz ora então explique lá, ao que eu, voltas que tinha dado aos sintomas na minha mente à procura de um diagnóstico diferencial plausível e menos consumidor dos meus escassos dias de estudo - sem sucesso, como está bom de ver - não consigo responder de outra forma que não a seguinte:
- Olhe, por volta das 6 da manhã comecei com dor abdominal difusa, com algum predomínio no espigastro, acompanhada de vómitos, com posterior localização à fossa ilíaca direita.
O Dr olha para os lados, entre o divertido e o confuso. Os internos explicam: é de Medicina e está a estudar para o Harrison - momento no qual todos na sala, incluíndo eu, começamos a pensar que o diagnóstico diferencial mais plausível seria mesmo um medical student sindrome levado ao extremo da somatização.

(... Continua...)

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