29 junho 2012

Olha!, acabei o curso!

Quando era ainda uma teenager inconsciente, a viver em casa dos pais, lembro-me de um dia estar com uma amiga da família que tinha acabado o curso nesse dia. E lembro-me bem das palavras dela: "Nestes anos (os do curso) vivi os melhores e os piores momentos da minha vida". Aquilo ficou-me.

Licenciei-me pela 1ª vez há 7 anos atrás. Na altura sentia-me um pouco perdida, cheia de incertezas quanto ao futuro, tudo há minha volta era mudança - saía da cidade que tinha tornado minha, separava-me dos amigos. Tirar Medicina nem me passava pela cabeça.

Até ao dia em que decidi. Sentei-me à mesa e falei com a minha mãe. Disse-lhe o que queria, o que pensava, quais eram as minhas condições. Perguntei se me apoiava. Ela, sempre realista, falava-me de como seria difícil entrar quando vem de lá o meu pai, lançado, um brilho nos olhos, a festejar como se eu já tivesse acabado o curso.

Nunca vou saber ao certo o que me fez decidir. Costumo dizer que nem todas as vocações se descobrem antes dos 18 anos e continuo a achar que é uma idade demasiado tenra para se decidir uma coisa tão importante para a vida. Sei, sim, que foi preciso uma certa dose loucura. Que coragem que tu tens, diziam-me alguns, e eu ficava surpreendida com o comentário, não me sentia corajosa, apenas a percorrer um caminho que de repente percebi que tinha que ser o meu.

Passaram 6 anos. Seis. Olho para trás, para tudo o que vivi e não, não posso dizer que, se soubesse, soubesse mesmo mesmo o que isto era, faria tudo igual. Foi um leap of faith. Um dia de cada vez de um curso que, no 4º ano, parecia nunca mais acabar. Um dia de cada vez, a aguentar. Perdi e ganhei muito pelo caminho. Foram seis anos em que posso dizer que sim, vivi os meus melhores e piores momentos da minha vida até agora. Um dia de cada vez que me trouxeram ao aqui e agora. E, para o bem e para o mal, não me via em mais sítio nenhum.

Não sabe a mudança. Acabei a licenciatura, mas já tinha feito o mestrado. Tenho a ementa dos próximos meses mais do que definida - marrar, marrar, marrar - e continuo a rir-me desta ironia que é acabar o curso e fechar fechada em casa a estudar, Ena, acabaste o curso, que vais fazer? Estudar!

Mas sabe bem. E o que sabe melhor não é o canudo - é saber que o P, lá do outro lado do mundo, tem hoje um sorriso nos lábios por mim, ele que me apoiou sempre, que nas vésperas de exame me perguntava "mas estás doente?" e levava com o olhar 33, como ele diz, de "eh pah deixa-me mas é estudar" - continuo a perguntar-lhe como é que nunca fugiu de mim, porque eu própria acho que o faria.

E, sobretudo, que os meus pais, incansáveis, estão à minha espera para celebrar. Eu sei o esforço que fizeram por mim, sei que os últimos seis anos também não foram fáceis para vocês. E vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para retribuir da melhor maneira possivel.

Por isso, seis anos depois, o mais importante que tenho a dizer é isto:

Obrigada pai e mãe! 
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20 junho 2012

Wait... What???

Pois bem, agora que o P está fora eu decidi que ficar em casa sozinha com o Mr H todo o dia era demasiado deprimente (no offence, cat) e, naquilo a que se pode chamar uma medida profiláctica contra a depressão e loucura precoces (que elas lá para Novembro chegarão....), achei por bem passar a estudar na Faculdade.

O problema é que esta que vos escreve não tem na capacidade de concentração uma das suas melhores qualidades, pelo que vira folha aqui na mesa ao lado, atende telemóvel ali na mesa do canto, os espaços públicos, mesmo aqueles destinados a actividades menos prazenteiras como estudar, são coisa para me distrair da missão, já de si pouco apetecível, de estudar o Mr H.

Vai daí que teve início uma verdadeira saga de "deixa cá ver se arranjo uma boa música de fundo" (saga essa que, quando não me apetecer estudar, sou capaz de vir cá contar) que me fez chegar a uma playlist do Yann Tiersen que existe no You Tube e eu, que tenho a banda sonora do Amélie mais bem armazenada nos meus neurónios do que qualquer capítulo de Nefro (mas há esperança, há esperança...), achei que era uma boa aposta para embalar o marranço.

Ora às tantas levanto a cabeça e vejo o Sr Tiersen no vídeo, facto imediatamente captado pelo meu olho clínico e pelo meu cérebro guloso de tudo o que não seja informação do Mr H., acompanhado-se tal visão do pensamento "eh lah, queres ver que é jeitoso?", pelo que decido que nada melhor que uma pausa para googlar o nome do Sr em modo imagens - eu já vos disse que me distraio com facilidade, não já?

E eis que me sai esta pérola:


Pesquisas relacionadas: Djalo?!?!?!? Wait.... WHAT???
(experimentem, experimentem!)

Ora considerando que um é cara pálida e outro cara escura, que um é multi-instrumentista e compositor e o outro futebolista, têm nacionalidades diferentes e, bom, vamos esperar que o gosto por mulheres siga o padrão de discrepâncias até agora evidente - expliquem-me lá, a pesquisa é relacionada por causa do Y?

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19 junho 2012

State of mind


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17 junho 2012

Da greve, dos direitos e das palavras dos outros

O direito à greve em Portugal banalizou-se ao ponto de haver sites dedicados exclusivamente a informar o público geral sobre se "hoje à greve". Esse é o 1º motivo para muitas greves provocarem revirares de olhos, suspiros, desabafos de "outra vez". Não deixa, no entanto, de ser um direito que nos assiste.

Não querendo com isto dizer que há greves de 1ª e de 2ª, a anunciada greve dos médicos é, a um tempo, uma defesa pelos direitos da classe e uma defesa do SNS. Luta-se pelos direitos da classe, sim, sendo que um dos direitos defendidos é o direito a uma carreira - o direito a ter uma formação complementar, a ser um especialista, a integrar uma equipa fixa; um direito que, inerentemente, se associa à melhor prestação de cuidados de saúde.

Luta-se pelos termos de contratação, sim, mas também (sobretudo, arrisco) porque estes acarretam uma reestruturação do SNS que vai deixar os portugueses mais mal servidos. Medidas que começam a fazer o SNS implodir.

E é por isso que esta greve terá, antevenho, tanta adesão de estudantes. Não, não vão ser só os Srs Drs a exercer o direito à greve - os alunos de Medicina também vão, parece-me, largar os livros por um dia e sair à rua. Lutamos pelos nossos direitos como futuros médicos, é certo, mas também pelos nossos direitos como utentes do SNS. Lutamos pela manutenção de um SNS para o qual nos estamos a preparar para trabalhar.

Esta greve devia ser uma greve de todos - e é pena que haja quem não queira ver isso.

Esperemos que não chegue o dia em que, enterrado o SNS, não sejamos forçados a abanar a cabeça e a dizer nós avisamos.

Termino com as palavras de quem sabe muito mais disto do que eu - e escreve com muito mais eloquência.

(clicar para ampliar)

(E agora adeuzinho que vou ver o fim do jogo...)


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12 junho 2012

Discurso 10 Junho


Fui a única a reparar nestas caras enquanto Sampaio da Nóvoa dizia "Penso nos outros, logo existo"?
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05 junho 2012

Os tentáculos que estrangulam os médicos

Saíu no Expresso de ontem um artigo de opinião, com o nome "Os tentáculos da Ordem dos médicos" que, para não variar, faz os possíveis por descredibilizar a imagem da classe profissional a que, espero, em breve vou pertencer.

Não vou discutir a questão dos genéricos, uma vez que já vários profissionais me asseguraram que, apesar de a substância activa ser a mesma, alguns - poucos - genéricos têm menos eficácia/ mais efeitos adversos. Outros que não confiam na marca. Outros dizem que não há diferenças. Sinto, por isso, não ter experiência qb para comentar a qualidade dos genéricos em Portugal, mas há factos inegáveis:

- Não há um genérico, há muitos. Logo, ainda que a preço mais baixo, as características do negócio para as farmacêuticas são exactamente as mesmas. Basta uma breve pesquisa no site do Infarmed, aqui - eu pesquisei a Sinvastatina, um fármaco usado em casos de hipercolesterolémia. São 11 páginas de resultados, sendo a maioria dos fármacos colocados em quadros a roxo - o que indica que se trata do genérico. Fazendo uma restrição dos termos de pesquisa (usei como Forma Farmacêutica: comprimido revestido; Dosagem 20 mg, Embalagem de 60 unidades), é fácil perceber que, além de se manter o franco domínio do roxo, o Preço para o Utente dos genéricos varia dos 0,74 aos 8,50 euros - reforço que se trata do mesmo composto activo, na mesma dose, em embalagens com o mesmo número de unidades. Por aqui se percebe que, o facto de o médico não trancar a receita, não implica que o doente compre efectivamente o fármaco mais barato. Porque é que não há um concurso público para a existência de um só genérico?

- Já testemunhei situações nas quais é prescrito a um doente um genérico x, da marca y (o mais barato, ou um dos mais baratos), sendo que o doente volta algum tempo depois dizendo que a farmácia não tem e não pode mandar vir. E para isso dão as explicações mais sórdidas - num dos casos, o medicamento, a ser adquirido na zona da Grande Lisboa, teria de vir de Trás-os-Montes. Ou seja, e adaptando a frase do artigo que dá mote a este texto, a farmácia tem o genérico de determinado laboratório e não de outro. Porque seria?

- É público, como podem confirmar nesta notícia do DN, que as farmácias recebem bónus com alguns genéricos. Na notícia fala-se de promoções na ordem dos "compre 50, pague 100" - sem obrigatoriedade de desconto aos utentes. Residirá aqui a explicação para os genéricos disponíveis e para os que não se podem mandar vir? Mais ainda, num País em que uma boa parte da população não consegue pagar os medicamentos, porque não usar esses bónus para que quem realmente necessite possa beneficiar dos mesmos a custo zero? Será que é porque não dá lucro?


Sobre as vagas em Medicina e a inexistência de um curso nas Universidades Privadas, nem vou falar, esse já foi assunto de um outro post. Peço apenas que, caso o autor do texto tenha o azar de um dia precisar de ser internado num hospital e lhe toque um universitário, tenha a bondade de responder de forma correcta e consistente ao interminável questionário inerente à elaboração de uma história clínica que os alunos, em grupos de 5 e 7, lhe farão a um ritmo de 2 vezes/ dia. Agradeço também desenvoltura para ser visto e palpado dos pés à cabeça, partes pudendas incluídas, o mesmo número de vezes.

Já o comentário de que, quem não teve nota para entrar em Medicina, deveria processar judicialmente o Estado, tem todo o meu apoio, desde que o mesmo seja feito para advogados, arquitectos, veterinários, dentistas, biólogos, filósofos, etc. Onde é que já se viu, ter que lutar, estudar à brava e deixar de lado tanta coisa que, na juventude, era suposto poder viver e experienciar? Aliás, o ideal seria mesmo a existência de passagens administrativas até ao 12º ano e entrada automática para todos os que declarassem sem fazer figas que sentem ter vocação para a área. Só assim seria possível separar o trigo do joio e acabar com estes médicos corporativos (sic), que estudam durante 6 + 1 + 4 anos no mínimo.

Sobre os enfermeiros poderem prescrever, deixem-me que vos diga o seguinte:
- Há, sem qualquer dúvida, enfermeiros nos serviços que sabem mais do que eu. Têm experiência e já sabem qual o medicamento a dar numa determinada situação. Se sabem o porquê da escolha, os efeitos adversos possíveis e interacções, sou franca, desconheço.
- Como aluno finalista do curso de Medicina, sou a 1ª a admitir que não sei fazer prescrições em todas as situações. Se calhar é por isso que a Ordem dos Médicos, aquela dos tentáculos, só me deixa prescrever 2 anos depois de estar inscrita. 
- Ao fim desses dois anos, espero ter prática qb para que todo o conhecimento teórico que adquiri ao longo da licenciatura e que hei-de adquirir posteriormente façam sentido e ganhem corpo. Mas tenho a certeza que, mesmo nessa altura, hei-de ir a correr para os assistentes a tirar dúvidas em alguns casos.
- Se acham que os enfermeiros, com 4 anos de curso e apenas uma cadeira semestral de Farmacologia podem prescrever, pois que o façam se tiverem coragem para isso. Eu cá, quase ao fim de 6 anos, não digo a ninguém para tomar uma aspirina para a dor de cabeça, porque fico logo numa ansiedade extrema a pensar e se tem asma?/ e se tem úlcera e não me disse?/ etc.
- Os cursos de Medicina e Enfermagem são distintos por algum motivo. Cada macaco no seu galho. Eu não sei, nem pretendo saber, fazer o trabalho fantástico que muitos enfermeiros fazem. Não percebo porque é que há-de ser estranho eles não saberem fazer o meu.

Por fim, este artigo tem, temo, o mérito de reflectir e muito a opinião de muita gente. Está tudo a esfregar as mãos de contente com as notícias de desemprego na classe médica, "ai é bem feita, há para todos, não havia para eles, queres ver! Acabou-se-lhes o tacho!" É o espírito Tuga: se eu estou mal, é bem feito que os outros também estejam; ninguém pensa que haver desemprego é mau e ponto final e que o facto de ser transversal a várias habilitações profissionais só mostra o tão mal que estamos.  Mas depois, quando faz falta, é um ver se te avias de Ai Sr Dr, de querer o médico disponível, de sorriso nos lábios e sem tempos de espera a toda a hora, de vénias, se for preciso. Na melhor das hipóteses, os médicos são como os jogadores da selecção: passam de bestas a bestiais num instante. E digo na melhor das hipóteses porque isso é quando corre bem e é dado o crédito ao médico. Na maior parte das vezes é Graça a Deus. Já o desgraçado que teve o azar de estar de serviço quando deu entrada uma vítima grave de atropelamento, há-de ser sempre o incompetente que lhe deu dores nos joelhos e nas cruzes para o resto da vida - porque o condutor embriagado que atropelou a vítima não tem culpa, claro.

Tirar um curso de Medicina não é fácil. Foram muitas as vezes em que parei e pensei que diabo estava a fazer à minha vida. Se ao olhar para trás vejo 6 anos com inúmeras semanas de "não posso" (estar com amigos e família, sair, ler, ir a concertos, ir tomar um café - porque tinha que estudar), agora olho para a frente, com o exame de acesso à especialidade no horizonte, e só vejo um "nem pensar nisso". E digo-vos, 6 anos é muito tempo na vida de uma pessoa. É muito tempo na vida dos nossos. E todos os dias peço que, quando acabar o curso, não seja tarde de mais para muita coisa. Apesar de saber que, depois, vou falhar jantares, Natais e aniversários, vou ser a mãe que nunca está em casa, a filha que está a tratar desconhecidos quando os pais precisam dela; vou ter horas extraordinárias obrigatórias e urgências, trabalhar mais de 24h porque não há saídas de banco, vou ficar até mais tarde porque estou preocupada com o Sr X, doente da cama 7. E isto vai trazer-me, espero, muita coisa boa, vai-me fazer sentir realizada, se não conseguir salvar todas as vidas, ao menos que melhore muitas - mas também me vai tirar qualidade de vida, horas de sono e dores de cabeça.

Se quero ter emprego e uma remuneração acima do ordenado mínimo por isso? Quero. Estudei e estudo, esforcei-me e esforço-me, porque não hei-de colher o fruto do que semeei? Porque não hei-de ambicionar ter poder económico para compensar os meus pais do esforço que fazem a sustentarem-me agora? Há maus médicos? Há! Mas não há maus profissionais em todas as áreas? Porque não dar aos bons senão a recompensa, pelo menos o crédito pelo que fazem?

Porque é que querer trabalhar na área para a qual se estudou, com uma remuneração de acordo com as qualificações e horas de trabalho, é um direito que assiste ou deveria assistir a todos os profissionais e na classe médica é "tudo comer pela ditadura do acto médico"? 
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03 junho 2012

Grown ups

1. Pais que levam os filhos ao restaurante e fazem uma barulheira - os pais, não os filhos - daquelas que dá vontade de fugir dali a correr

2. Mulheres com conversas pseudo espirituais, em volume máximo, num lanche que se procurava calmo, a fazer perceber porque é que há quem diga que um Deus é um amigo imaginário colectivo

3. Celebrações, presumo, em pleno Chiado, a única coisa que ainda vai fazendo acreditar que adultos podem brincar e divertir-se sem má educação nem pseudo intelectualismos histriónicos. A conferir na foto.


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01 junho 2012

Playlists, Curtas & TGIF

1. Pessoas do mundo: mais Gotye com o somebody não sei quê no facebook não, sff. Ou sou a única que sente que 90% do Face já partilhou?

2. Cada vez tenho menos paciência para as pessoas que se gabam a si mesmas. E começo a achar que só têm credibilidade para elas próprias.

3. As Sextas agora têm o sabor especial de countdown. Se vivesse numa caverna fazia tracinhos na parede.

4. Sestas de 10 minutos têm tanto de proveitoso como de masoquista, mas ajuda a lidar com as poucas horas de sono à noite.

5. Estou a fazer uma playlist para me ajudar a manter a sanidade mental nas próximas semanas e futuros meses. Aceitam-se sugestões.
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