13 fevereiro 2013

The piano has been smoking - not me*

Aqui há uns tempos deixei de fumar. Foi em 2012, ainda (sempre achei que essas decisões de ano novo, tomadas em dias de bebedeira/ ressaca, estão por definição condenadas ao fracasso).

Já lá vão, repito, uns tempos. E sinto a falta de um cigarro com quem sente a falta de uma má companhia. O nosso convívio fez-me mal, levou-me por maus caminhos - but boy!, did we have fun! Como só os fumadores, passados ou presentes irão perceber - nada faz companhia como a confidência de um cigarro.

Deixei o vicio perdido algures em Berlim. A mesma Berlim dos maus caminhos de Bowie, sem qualquer simbolismo. Uma Berlim cheia de neve, mais condizente com a melosa Fade into You dos Mazzy Star do que com excentrismos camaleónicos. Enterrei, por assim dizer, sob uma camada de gelo aquele que foi, durante mais de uma década (autch!) um dos meus maiores prazeres.

Gostava de ter só coisas boas para dizer - o ganho em anos de vida, o dinheiro que não é mal gasto, o cheiro que já não me persegue que nem núvem escura à volta de um qualquer desenho animado. - E, no fundo, é só isso mesmo, só coisas boas para partilhar - que o resto são cumplicidades pintadas em argolas de fumo, confidências esquecidas num qualquer papel ou na esquina suja de um café e a voz rouca do Tom Waits a arranhar aquele pedaço de alma, atirado para um canto, onde descansa agora uma cadeira vazia.

* e é das lascas dessa mesma cadeira que salta o título do post, adaptação descarada e a servir a circunstância do tema the piano has been drinking not me - Waits, once again.

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