05 dezembro 2011

Pizza e preconceito


Ontem fiquei chateada, muito mesmo, porque uns malandros do bairro social perto da minha casa decidiram assaltar o senhor que vinha cá entregar a pizza que tínhamos encomendado. O homem, coitado, ligou a contar o happening - e, claro, não voltou - enquanto os víamos daqui da janela a festejar.

Ora isto chateia. Porque depois de um fds atribulado apetecia-nos mesmo uma pizzazinha e um filme. Porque assim de repente e sem estarmos prevenidos, acabamos a comer massa e salsichas. E porque ficou loiça para lavar, claro, e não me faltou vontade de ir lá levá-la para os meninos a lavarem. (Já para não falar do meu peso de consciência pelo prejuízo que os senhores tiveram....)

Mas sabem o que chateia mais?

É que eu não sou de julgar ninguém pela cor da pele, nacionalidade ou tendência sexual. Tenho, claro, pré-conceitos. E quem diz que não tem, mente.

Está estudado: as feições de uma pessoa, a sua imagem geral, é por nós inconscientemente analisada, fazendo com que sintamos ou não empatia. E julgamos pessoas a toda a hora. Uma mulher vestida de determinada maneira parece-nos fácil, a outra intelectual; um homem parece-nos surfista, o outro metaleiro. Os alentejanos são preguiçosos, os italianos excêntricos, os brasileiros barulhentos.

São generalizações, que enquanto forem entendidas como tal, à laia de piada e sabendo que existem inúmeras excepções à regra,  não fazem mal a ninguém. Quando generalizadas mesmo, passam a preconceito. A racismo.

E faz parte de cada um, individualmente, lutar contra os preconceitos. Uma luta que não é só de quem os tem - é também de quem os sente na pele. De que me vale ficar chateada por dizerem que os transmontanos são asneirentos e depois dizer asneiras por dá-cá-aquela-palha, a toda a hora?

O mesmo se passa com as minorias étnicas. As casas são dadas, o estacionamento é o único que não é pago. Têm rendimentos sociais e sei lá o quê mais. Tudo bem, eu sou a favor de ajudar quem precisa - se bem que com a certeza de que se eu ficasse sem nada, o estado me fazia um belo de um manguito.

Mas, com a sujidade que por lá vai, o barulho e agora isto... Sinto-me a ir pelo caminho do preconceito. E isso, preconceituosa, é coisa que nunca quis ser. Estes senhores estão, claramente, a tornar-me a tarefa difícil. E isso, sim, é o que me chateia mais desta história toda.

Até porque, se me pedissem, eu era gaja burra para partilhar a pizza.

0 comentários:

 

Mx3 Design by Insight © 2009