Hoje é um dia diferente.
Se bem que ainda me falta um nota que vale 50% da avaliação de uma cadeira, correndo tudo bem, não tenho mais exames. Ou seja, para acabar o curso, faltam-me os estágios do último ano. O que quer dizer que acabaram os anos seguidos de aulas, trabalhos, livros, semanas seguidas enfiada em casa. Se ainda vou ter que estudar? Sim, e muito. Vai haver o exame de acesso à especialidade, o exame do fim da especialidade e, enfim, médico que se preze estuda toda a vida. Sempre soube isso. Mas vai ser diferente. Não vão existir exames e mais exames seguidos, notas mínimas para me safar de orais, para passar de ano, não vão haver exames em que tenho que correr - sim, também tive disso. A avaliação nos cursos de Medicina é muito... dinâmica e variada!
Acima de tudo, com excepção dos meses em que me estiver a preparar para o exame de acesso à especialidade, vou fazer outras coisas - estudar não me vai ocupar a tempo inteiro. Que, bom, basicamente foi tudo o que fiz desde que me conheço...
O sentimento é bom e assustador ao mesmo tempo. Foi uma longa caminhada. Muitas horas, dias, noites, semanas, em que tive que me "esquecer" que a vida tem outras coisas, pôr de lado interesses, gostos e preocupações. E garanto-vos, ter a vida em "suspenso" 2 meses por ano, no mínimo, não é pêra doce. Se fazia tudo outra vez? Nem sei! Provavelmente sim, mas confesso que quando comecei não fazia a mínima ideia do que isto ia ser.
Ainda estou a cair na realidade, a aterrar devagarinho e olhar em volta. Sei que perdi muita coisa pelo caminho, mas também sei que tudo o que vale a pena continua cá. Foram 5 anos nos quais convivi com o melhor e o pior de mim, cresci, umas vezes ao sabor do vento, outras à custa de ferros em brasa. Hoje sei melhor quem sou e o quero. Mais do que as cadeiras, as notas ou qualquer outra coisa, fico contente por não me ter perdido no caminho, pelo contrário, encontrei-me mais. E se é certo que, como é lógico, a idade nos vai vincando feitios e defeitos, também foi bom ao longo do caminho perceber que há coisas em mim que sempre vi como defeitos e que, afinal, são qualidades, quem diria!
Como disse, o sentimento é também assustador. Porque agora é que vai ser a sério. Não vão ser exames, aulas ou professores. Vão ser pessoas, vão ser vidas. A responsabilidade é, vai ser, tão grande, tão imensa, que não cabe em mim. Ultrapassa-me, mas é bom que assim seja, parece-me, porque nunca quero perder a noção de que não vou ser capaz de tudo, que, como alguém me disse hoje, não vou estar a trabalhar para mim. Vou sim estar a dar o melhor de mim e das minhas capacidades. Tenho medo, claro. Imenso. Espero aprender a viver com ele lado a lado, com respeito, sem nunca o esquecer, mas sem deixar que ele me limite.
O pior ainda está para vir, sei disso. Mas foi um grande passo. Que consegui dar graças à empatia e motivação dos colegas que se tornaram amigos; ao apoio incondicional que o P sempre me deu, sólido que nem uma pedra ao meu lado, cada vez mais; à paciência da minha mãe, sempre a aturar-me nos momentos de maior stress e à fé absolutamente inabalável que o meu pai tem em mim. Dizer obrigada não é, nem nunca será, quanto baste para vos agradecer.
A vida vai (re)começar agora. Com tudo de bom e de menos bom que isso implica. Acima de tudo, espero ter a confiança e coragem necessárias, sem nunca perder a humildade. Porque sei que crescer, aprender e dar o melhor de nós, a nós mesmos e aos outros, são "tarefas" que nunca se esgotam.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário