17 dezembro 2010

Curar um doente com HIV é diferente de encontrar uma cura para a Sida

E porque isto de estudar Medicina tem piada se conseguirmos ajudar e esclarecer, cá vai disto.

Afinal, há uma cura para a Sida?

A resposta é clara: NÃO. Pelo menos por agora. E, apesar de, estranhamente, ainda não haver por aí um furor desmesurado, ao contrário do habitual, aqui fica uma explicação simples.

O vírus da Sida tem preferência por umas células do nosso sistema imunitário chamadas T Helper, um tipo de glóbulos brancos, essenciais para que o nosso organismo se defenda de agentes externos, como vírus e bactérias. Acontece que, quando o HIV infecta essas células, elas vão sendo progressivamente destruídas. É por isso que se fala em imunodeficiência - uma deficiência do sistema imunitário - já que, com o vírus a destruir as células, o nosso corpo não tem a mesma capacidade de defesa.
Para entrar nas células, os vírus usam portas de entrada especiais - receptores que estão na superfície das células. No caso, o receptor é o CCR5. Logo, o vírus só infectam células com este receptor.
Bioquimicamente, os receptores são proteínas e são codificados por genes. Se houver um defeito neste genes - ou seja, uma mutação - as proteínas ficam diferentes, diferença essa que pode causar doenças. Mas as mutações são também importantes na evolução da espécie. As proteínas podem ficar melhores. E há pessoas que têm uma mutação no receptor CCR5, que faz com que este receptor deixe de funcionar como porta de entrada para o vírus.

O que é que a medula óssea tem a ver com isto tudo?

Acontece que é na medula óssea que, em circunstâncias normais, no indivíduo adulto, se dá a chamada Hematopoiese, que é como quem diz, a formação de células sanguíneas - glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. Todos temos, na nossa medula óssea, as chamadas células tronco, células essas que, com os estímulos certos, se transformam nas nossas células do sangue, passando para tal por diferentes fases.
Quando numa dessas fases a célula se torna maligna, tem a capacidade de proliferar, mesmo que o nosso organismo não queira. Surgem assim as leucemias. Esse tipo de célula maligna começa a ocupar a medula óssea, que assim deixa de ter a capacidade de produzir normalmente as células do sangue. O tratamento para este tipo de doença é portanto o transplante de medula óssea.

E como é que um transplante de medula óssea parece ter curado a sida?
Isso aconteceu porque o dador das células da medula óssea era precisamente uma dessas pessoas que tem a tal mutação na porta de entrada do HIV, ou seja, uma mutação do CCR5. Quando o doente, depois do transplante, começou a produzir as suas próprias células, a partir das transplantadas, ficou com células com a mutação que impede a entrada do HIV.

Claro que os transplantes, com tudo o que acarretam, não deverão num futuro próximo ser usados como cura para o HIV. Até porque não há assim tantas pessoas com a tal mutação necessária para que o vírus não entre nas células. Mas, claro, é um caso interessante, que abre portas à investigação. Ainda não temos uma cura para a sida, mas demos um bom passo em frente.

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