Já aqui falei de que Lisboa não é uma cidade feita para quem nela vive; as pessoas vivem para a cidade. Talvez seja por isso que a maior parte dos lisboetas assiste, de uma forma tão indiferente, à destruição do património que se queria público desta que deveria ser a capital de todos.
Atente-se por exemplo ao caso da Feira Popular. Eu que vivo cá há menos de uma década, sempre a conheci assim:
(foto daqui)
E é por relatos de terceiros que sei das noites na Feira Popular, das jantaradas que lá se combinavam, da magia do sítio; é por terceiros que sei que aquele edifício que se vê lá no fundo, que eu sempre conheci em ruínas, é afinal um sítio histórico - foi lá, afinal, que se fez a primeira emissão da RTP.
Rendida à minha condição inevitável de estrangeira, por vezes aponto para este ou aquele edifício abandonado, tombado, em ruínas ou demolido e vou-lhe conhecendo a história.
Desde que cá estou, foi abaixo o edifício da antiga escola de Veterinária, a fábrica da cerveja da Portugália, a já referida Feira Popular continua ao abandono. Há uns meses falou-se do possível fecho do Estádio Universitário! Vejo prédios com uma arquitectura invejável, uma localização do mais central possível e estão todos abandonados, as janelas tapadas com tijolos, a propaganda do BE a constatar a realidade óbvia - aqui podia morar alguém. Ainda este fim de semana a reportagem da RTP falava da elevada percentagem de edifícios nessa situação.
Desta vez, a bomba cai mais perto - o Complexo Desportivo da Lapa foi, depois de muitas ameaças, finalmente fechado. Para quem não conhece, é um espaço que albergou o IDP e várias federações; um local com excelentes condições que albergava treinos de Judo, Esgrima, Andebol; era o local onde se situava o Museu do Desporto. E era também o local onde, nos 2 últimos anos, eu treinei Iaido e Jodo, 2x por semana.
Vão sendo feitas petições que caem no esquecimento, vai-se falando com os amigos, vão-se lamentando as perdas. Mas Lisboa precisa de mais.
Estamos a assistir a um leilão daquilo que foi construído com o dinheiro de todos, para servir o público e que agora vai servir, certamente, como habitação de luxo para quem puder pagar. Enquanto isso, definham por Lisboa edifícios antigos sem recuperação à vista, pelos quais o comum dos mortais passa e suspira, a caminho do apartamento nos subúrbios cujo empréstimo é o único que o parco ordenado consegue pagar.
Eu não sei quem enriquece com isto, mas sei que estas situações não são sustentáveis a menos que haja muito dinheiro por trás. E sei que não sou eu, nem tu que lês isto, a enriquecer. A nós, tiram-nos o pouco que temos. Numa cidade que não tem sequer cafés abertos à noite porque já é quase uma cidade fantasma, tiram-nos ainda os espaços onde podíamos fazer desporto - noite e dia; e Lisboa torna-se, cada vez mais, uma cidade que só serve para se vir trabalhar.
Quando é que isto acaba? Será preciso que transformem os Jerónimos num Hotel de luxo para que os cidadãos finalmente acordem e reclamem os seus direitos sobre o que é de todos?
Acorda Lisboa!
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